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Open Finance parece ser o assunto da vez em bancos e instituições financeiras. Diversas campanhas foram veiculadas para comunicar pessoas e empresas sobre os benefícios do compartilhamento de dados no novo ambiente regulado pelo BACEN. Paralelamente, para quem trabalha próximo do gestor financeiro de pequenas e médias empresas, ainda é normal ouvir que o Open Finance gerou pouco impacto no seu dia a dia.

O gestor financeiro, principalmente de uma pequena empresa, ainda precisa mostrar um histórico financeiro impecável ao buscar crédito (empresas com menos de 2 anos de fundação ainda sofrem para captar empréstimos); ainda tem dificuldade para buscar ofertas melhores de recebíveis de cartões com financiadores não associados às empresas de maquininha (e, às vezes, é surpreendido com aumento das taxas dos cartões sem aviso prévio); ainda precisa pagar caras garantias nos contratos de aluguel de seus pontos de venda (com fiador, carta fiança e/ou adiantamento em caução); e ao fazer sua gestão financeira, ainda perde muito tempo para consolidar suas informações e entender seus fluxos de pagamento e recebimento. 

O potencial do Open Finance para destravar a gestão financeira de pequenas e médias empresas é claro, assim como a vontade de quem está no comando delas.  Segundo a EY, em seu estudo global “A voz das PMEs: experiências bancárias e expectativas”, 97% das pequenas e médias empresas têm interesse em compartilhar mais dados de seus negócios em troca de um aconselhamento melhor e mais customizado. Logo, a "pergunta de 1 milhão de reais" é: como é possível aproveitar as oportunidades para ganhar tempo e dinheiro com o Open Finance?

Um bom modelo mental para entendermos o momento em que vivemos é proposto por Carlota Perez, especialista mundialmente reconhecida na área de inovação. Ela afirma existirem duas fases para toda inovação tecnológica. A primeira é de “instalação da infraestrutura”: pense por exemplo, na internet de alta velocidade 3G e 4G no seu smartphone; a segunda é de “desenvolvimento das aplicações”: por exemplo, a internet de alta velocidade nos smartphones permitiu o uso de aplicativos de entrega como Uber, 99, etc.). No caso do Open Finance, claramente estamos na primeira fase, de instalação da infraestrutura, mas logo veremos a proliferação de seu uso, com cada vez mais aplicações aos empreendedores. 

Independentemente desse processo natural de evolução, já é possível listar alguns casos de uso com benefícios claros para pequenas empresas. Veja a lista abaixo.

Facilidade em gestão financeira. 

Atualmente é possível ganhar um tempo significativo com o uso do Open Finance, principalmente em ferramentas de consolidação financeira, como a que criamos na Destrava Aí. Quanto você vai receber nos próximos 15 a 45 dias em vendas de cartões? Em quais contas serão feitos os repasses? Qual deveria ser o custo de vendas? Esse custo foi cobrado corretamente? Essas são algumas perguntas que nossa solução traz automaticamente e todos os dias para o gestor financeiro, por meio do uso do Open Finance.

Além disso, em um futuro próximo, será possível integrar outros fluxos de recebimento e pagamentos, bem como programar agendamentos baseados em regras como disponibilidade de fluxo de caixa, automatizando totalmente a gestão de caixa do dia a dia e liberando tempo valioso para outras funções.

Maior controle financeiro

Uma vez que o gestor financeiro está livre dos processos manuais que tomam o seu dia a dia, ele pode focar em assuntos mais estratégicos. No contexto atual, um bom controle de custos é essencial na rotina dos empreendedores. Com a ajuda do Open Finance investir em controle de custos não significará necessariamente mais tempo investido nesse processo.  

Nesta frente, o Open Finance facilita o controle de custos, seja com um controle automatizado das taxas de comissão e de antecipação (como no caso das vendas de cartões, que a solução da Destrava Aí trabalha atualmente), seja com o controle de custos de tarifas e serviços bancários. 

No futuro, veremos serviços que não só fazem o monitoramento, como também, proativamente criam notificações para o gestor e armam "bloqueios de segurança" nas contas, para cobranças que excedam o valor combinado.

Mais competitividade em serviços financeiros, principalmente em ofertas de crédito. 

Esse ponto talvez seja o benefício mais comunicado pelas instituições financeiras e bancos em suas campanhas de Open Finance. Afinal, os bancos sabem que recusam bons pagadores por falta de informação e gostariam de parar de deixar passar boas oportunidades. Além disso, a própria abertura de informações traz consigo o benefício de mais competição no momento da tomada de novo crédito ou refinanciamento de uma dívida antiga.

Atualmente, o maior desafio é mudar o paradigma na prática, reajustando os modelos de crédito, de modo a serem mais assertivos frente a informações de distintas fontes. Como o emprestador é naturalmente conservador, infelizmente será preciso tempo (e muito trabalho) até que a performance desses novos modelos deixe as instituições mais confiantes na hora de oferecerem taxas melhores ou concederem maior limite de crédito.

Portanto, a oportunidade de melhores taxas e maiores limites, sem mudanças internas na operação de uma empresa, pode não se concretizar tão cedo.

Novos meios de pagamentos

Pagar com boleto é coisa do passado? Agora é possível usar o dinheiro da própria conta, ou mesmo recebimentos futuros e outros títulos de crédito como forma de pagamento. Afinal, facilitar o fluxo da informação é também facilitar o fluxo do dinheiro. 

Atualmente, existem algumas empresas que estão fornecendo o serviço de iniciação de pagamentos, o qual permite realizar movimentações financeiras sem passar pelo internet banking da sua conta. Nesse contexto, o ganho de tempo pode ser relevante, principalmente se a alternativa for o boleto bancário. O próprio PIX é uma das infraestruturas essenciais para viabilizar novos meios de pagamento no paradigma do Open Finance.

No entanto, como é de se esperar, muitos gestores financeiros ficam receosos em relação à segurança de conceder esse acesso, mesmo para empresas que têm reputação no mercado. Foram veiculadas algumas campanhas que explicam aos clientes que os processos seguem as melhores práticas de segurança. Todavia,  a barreira para a maior difusão desses novos meios de pagamento será naturalmente o hábito dos gestores financeiros, fator decisivo para a adoção de novos meios de pagamentos.

Oportunidades para monetizar sua própria informação 

No contexto do Open Finance, a informação vira dinheiro e, portanto, pode ser negociada como qualquer outro bem e direito de uma empresa. Seus relacionamentos com fornecedores, os produtos e serviços mais vendidos e outras informações do negócio, têm valor para outros agentes do mercado. Por que não diversificar suas fontes de receita vendendo seus próprios dados? 

Esse é o cenário mais futurista de todos os cinco que menciono no artigo e podem ser necessários alguns anos para que se torne realidade.

Sendo assim, quanto tempo até o potencial do Open Finance se tornar uma realidade para o gestor financeiro de uma pequena ou média empresa? 

Como visto acima, a partir deste ano, já é possível aproveitar os benefícios do Open Finance para um melhor controle e automação em gestão financeira, bem como em melhores ofertas de crédito. De 2023 em diante, veremos o crescimento contínuo desses benefícios que possivelmente serão exponencializados, atingindo  sua maturação dentro de 10 anos, quando o paradigma atual do mercado financeiro fechado será considerado ultrapassado. 

Citações

https://www.cellim.com.br/p/6845/pmes-93-das-empresas-querem-assessoria-financeira.html

https://carlotaperez.org/ - Framework de inovação

https://www.amazon.com/Technological-Revolutions-Financial-Capital-Dynamics/dp/1843763311/ - Framework de inovação

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